"Besta", cores, números... Os símbolos presentes no Livro do Apocalipse. |
Símbolos
misteriosos, cores e números nunca escritos ao acaso. Quem fala deles é Ignacio
Rojas Gálvez, autor do livro “I simboli dell’Apocalisse” (“Os símbolos do
Apocalipse”, ainda sem tradução ao português).
Rojas afirma
que, no livro do Apocalipse, São João usa os símbolos para nos fazer
compreender alguns aspectos da Revelação divina. O autor do Apocalipse
apresenta um mundo que foge à lógica e à experiência humana – e são incontáveis
os estudos de exegetas que tentaram “traduzir” as mensagens do Apóstolo.
SÍMBOLOS
Entre os
símbolos evocados por João, a dicotomia Céu-Terra indica espaços onde se
desenvolve a liturgia e a luta entre o bem e o mal; o trono representa Deus; o
Cordeiro em pé, imolado, é Cristo, morto e ressuscitado; os vinte e quatro anciãos
são a totalidade que louva a Deus; um rolo com sete selos é o plano de Deus
para a história e para a humanidade; o lago é um símbolo negativo: o lugar da
rejeição de Deus.
ANIMAIS
Em Apocalipse
4,6-7, João cita quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por trás. O
primeiro ser se assemelhava a um leão; o segundo, a um bezerro; o terceiro
tinha aspecto como de homem; o quarto era semelhante a uma águia que voa. Os
quatro seres viventes têm seis asas cada um e, ao seu redor e por dentro, são constelados
de olhos. Estes seres vivos representam a Criação, a vida que flui de Deus.
Cada animal simboliza a sua qualidade fundamental: o leão, a realeza; o touro,
a força; a águia, a velocidade e a altura. Já um animal negativo como o dragão
evoca o poder terrível do mal.
CORES NUNCA ALEATÓRIAS
João não vê a
realidade em preto e branco, e não é casual o uso de uma cor em vez de outra. O
detalhe cromático nas descrições revela o desejo do autor de expressar através
das cores uma forte carga emocional. O autor pinta um universo caracterizado
principalmente por cinco cores. A chave de interpretação das cores é
determinada pela sua utilização no conjunto da obra. Os atributos que
acompanham os personagens e a sua relação com o bem e o mal nos propõem uma forma
de interpretar essas cores.
CORES POSITIVAS: Os tons
positivos são o branco, simbolizando a transcendência e a vitória do
Ressuscitado e dos que triunfam com Ele, e o dourado, o ouro puro, reservado
por João à liturgia, a fim de simbolizar a proximidade do mistério divino.
CORES NEGATIVAS: Três outras
cores representam a face negativa da história: o vermelho escarlate simboliza o
demoníaco e o violento (por exemplo, o dragão); o verde amarelado representa a
fragilidade da vida; e o preto indica a miséria, as ameaças e a injustiça
social.
OS NÚMEROS
O número mais
presente em todo o livro e o preferido pelo autor é o sete, que simboliza a
totalidade, a plenitude, na esteira das tradições religiosas ancestrais. É,
portanto, bastante lógico que o três e meio, metade do sete, indique a
parcialidade e a transitoriedade. Um período de três anos e meio, por exemplo,
é um tempo definido e concreto, que tem um fim certo. O número quatro, que
indica os quatro seres viventes, é o número da totalidade cósmica e da ação
universal de Deus, posta em prática por meio dos anjos que provêm dos quatro
ventos.
666
O número seis
foi o que provocou o maior debate desde os inícios. A sua relação com o número
da besta e o convite enigmático ao vidente para decifrá-lo deu origem às mais
diversas interpretações. Destaque-se o texto seguinte: “Eis a sabedoria. Quem
tem entendimento calcule o número da besta: é número de homem, e o seu número é
seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13,18).
A modalidade de
interpretação mais antiga desse número é conhecida pelo nome de “gematria”, uma
antiga arte com a qual, através da análise numérica de um texto ou de uma
simples palavra, tentam-se deduzir leis e correspondências. A cada letra
corresponde um valor numérico; por exemplo, A tem o valor 1 e Z vale 900.
Aplicar a gematria ao número 666 significa descobrir um nome cuja soma das
letras, hebraicas, gregas ou latinas, corresponda a esse valor. Com a gematria,
vários nomes foram “calculados” e a besta foi identificada com diversos
personagens históricos. Ao longo dos séculos, as interpretações da simbologia
numérica 666 fizeram jorrar rios de tinta e sugeriram figuras históricas de
todos os tipos, de Nero a Stalin, passando por Domiciano, Hitler, Martinho
Lutero e até cada papa reinante, só para citar alguns.
Atualmente, a
interpretação mais aceita é a que vê o número 6 como defeituoso, como uma
“imperfeição clamorosa”; o símbolo, portanto, seria uma forma de manifestar que
a besta é vulnerável.
12 e 1.000
O número doze
indica plenitude, mas com certa nuance social: designa o povo de Deus
representado no passado pelas doze tribos de Israel e no presente pelos doze
apóstolos do Cordeiro. A sua soma simboliza a plenitude da revelação de Deus na
história: assim, o Antigo e o Novo Testamentos são representados, juntos, pelo
número vinte e quatro. Já o número mil indica a totalidade divina e a plenitude
da ação de Deus. O tempo é sacralizado graças à presença e à ação de Cristo.
144.000
Até as operações
matemáticas são importantes para a compreensão de algumas cifras. Por exemplo,
144.000, o famoso número dos salvos, pressupõe a operação 12 × 12 × 1000, ou
seja: o povo de Deus na sua totalidade (doze vezes doze), guiado no tempo
(1000) pela plenitude da ação salvífica de Cristo.
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