Aproxima-se a grande Solenidade de Pentecostes, no qual a Igreja comemora o dia no qual o Consolador, o Espírito Santo Paráclito foi enviado da parte do Pai e do Filho para a Virgem Maria, os Apóstolos e Discípulos (as) do Senhor. Foi o nascimento da Igreja.
Maria foi e é a expressão e imagem perfeita da Igreja. Ela é a Virgem Imaculada, sem mancha, apresentada pelo Cordeiro imolado ao Pai. Maria é, ao mesmo tempo, Mãe e Filha da Igreja. É a mais Santa Filha da Igreja e a mais perfeita imitadora, seguidora e discípula de Deus Filho, Jesus, Cabeça da Igreja.
Nada mais justo é que, neste artigo, enumeremos e comentemos os carismas que o Espírito Santo concedeu em sua vida terrestre à Virgem Maria. O artigo é de grande proveito para aqueles que veneram e amam a Mãe de Deus.
Os carismas do Espírito Santo na Santíssima Virgem
Toda graça
divina é, sem dúvida, gratis data, ou
seja, gratuita, no sentido de que não é devida ao homem, estando acima de sua
natureza e de suas exigências naturais. É um puro dom, efeito da liberalidade
de Deus.
Neste sentido, é
graça gratis data a própria graça
santificante ou habitual; como o são também todas as graças atuais, que se
recebem em vista da própria santificação pessoal.
As graças "gratis datae" ou carismas do
Espírito Santo
Existe, porém
uma espécie de favores divinos ou de graças que são chamados, de modo
específico, gratuitos, ou seja, graças gratis
datae, (também chamados carismas do Espírito Santo). E são aqueles que
direta e proximamente se ordenam ao bem dos outros, mais do que ao bem de quem
os recebe.
Sendo tais,
esses favores não exigem, por si mesmos, o estado de graça em que os recebe,
podendo mesmo se acharem em quem esteja em pecado mortal.
Assim, por
exemplo, o dom dos milagres, das profecias, das línguas, etc., são graças gratis datae, não santificam o indivíduo
em que se encontram. Todavia, servem-lhe imensamente para fazer o nem a outros
e, se aproveitar disso, contribuem também muito para sua própria santificação,
como acontece com os Santos.
É impossível
determinar o número das graças gratis
datae que Deus pode conferir aos homens são incontáveis. São Paulo cita
algumas como exemplo, sem pretender enumerá-las todas. Eis o texto do Apóstolo: "E a cada um é dada a manifestação do Espírito para (comum) utilidade,
porque a um pelo Espírito é dada a palavra da Sabedoria; a outro porém, a
palavra da ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro a fé, pelo mesmo
Espírito; a outro o dom de curar as doenças no (mesmo) Espírito. A outro o dom
dos milagres. A outro a profecia. A outro o discernimento dos espíritos. A
outro a variedade das línguas. A outro a interpretação das palavras. Mas todas
essas coisas opera um só e mesmo Espírito, repartindo a cada um como quer". (I
Cor, XII, 7-11).
A par destas que
assinala São Paulo, podem dar-se outras muitas graças gratis datae - e se tem dado, de fato, sobretudo nas vidas de
alguns Santos - porém sempre conservam o caráter de inteiramente gratuitas, no
sentido de que ninguém as pode diretamente merecer e não entram, de si, no
processo normal do desenvolvimento da graça santificante.
As graças "gratis datae" em Maria
As principais,
visto que, como Rainha de todos Santos,
possuía todos dons e carismas possíveis a uma pura criatura humana. Seria injusto que a Virgem Maria, Mãe de Deus, Mãe da Divina Graça, não possuísse todos os dons e carismas do Espírito Santo.
- Sabedoria carismática
A Sabedoria como
gratis datae, consiste numa especial aptidão para comunicar aos demais, pela
palavra, os altíssimos mistérios da Trindade, Encarnação, Redenção, etc., de
maneira que os instrua, deleite e comova.
Ora, o Doutro
Angélico, São Tomás de Aquino, se pergunta se esta graça pertence também às
mulheres, e contesta com uma luminosa distinção: em público, dirigindo-se a
toda a Igreja, não é própria das mulheres, segundo aquilo de São Paulo:
"As mulheres calem na Igreja" (I Cor. XIV, 34). Porém, em privado,
falando familiarmente com um ou com poucos, podem também as mulheres exercitar
esta graça gratis datae, se a receberam de Deus.
Não padece
dúvida que, ao menos neste segundo sentido, recebeu Maria, em grau sublime, a
sabedoria carismática, e a exercitou sobre os Apóstolos e primeiros discípulos
do Senhor, já que sua penetração nos mistérios divinos foi incomparavelmente
superior à dos mesmos Apóstolos, que muitas coisas aprenderam de Maria.
- Ciência carismática
Os teólogos
distinguem no entendimento de Cristo quatro classes de ciência: divina,
beatífica, infusa e adquirida.
1) Divina
A ciência divina
era a que tinha como Verbo de Deus, e, por isso mesmo, dela gozou desde o
primeiro instante de sua concepção no seio de Maria, e era incomunicável aos
demais. Maria não a teve nem a podia ter.
2) Beatífica
A ciência
beatífica é a que corresponde aos bem-aventurados, que contemplam face a face a
essência divina. Cristo a teve também desde o primeiro instante de sua
concepção. Se Maria recebeu ou não esta classe de ciência beatífica, é questão
controvertida entre os teólogos. É doutrina comum que não a recebeu
habitualmente. Porém, a maioria dos doutores admite que gozou dela
transitoriamente em alguns momentos culminantes de sua vida, nos quais se Lhe
comunicou transitoriamente o lumen
gloriae, indispensável para tal visão.
3) Infusa
A ciência infusa
é aquela que não se adquire pelo ensino das criaturas ou pelo próprio estudo da
razão, mas por espécies inteligíveis infundidas diretamente por Deus no
entendimento humano ou angélico, Essas espécies ou idéias infusas podem
referir-se a verdades sobrenaturais, que a razão jamais poderia descobrir por
si mesma, ou também a verdades puramente naturais, que o homem seria capaz de
alcançar por si mesmo, ainda que com maior esforço (por exemplo, se alguém
aprendesse por revelação divina um idioma desconhecido, sem o haver estudado).
Cristo, desde o
momento de sua concepção no seio virginal de Maria, conheceu com ciência infusa
todas as verdades naturais que o homem pode chegar a conhecer e todos os mistérios
da graça, sem nenhuma exceção.
A Santíssima
Virgem recebeu certamente a ciência infusa procedente dos dons intelectivos do
Espírito Santo, sobretudo através dos dons de sabedoria e inteligência. E é
seguro que recebeu também, em plano extraordinário ou carismático, luzes
especialíssimas sobre o mistério da Encarnação e o papel excepcional que Ela
mesma haveria de desempenhar no mistério redentor como Co-redentora da
humanidade. Quanto a isto não cabe a menor dúvida.
A ciência
adquirida, como indica seu nome, é a que se adquire o próprio esforço puramente
natural. Com esta classe de ciência Cristo aprendeu por si mesmo o ofício de
carpinteiro ao lado de São José e todos os demais conhecimentos humanos que
podem adquirir-se pelo próprio esforço natural. Também Maria deve ter aprendido
a ler e a escrever, e os demais conhecimentos elementares que costumavam
aprender as demais meninas de sua época e condição social.
- Fé carismática
Como graça
carismática, a fé consiste - segundo São Tomás - em uma supereminente certeza
da fé, que torna o homem apto para instruir aos outros nas coisas pertencentes
à mesma. Não há dúvida de que Maria, possuiu em grau excelente esta graça
carismática, já que, como disse o imortal Pontífice Leão XIII, "mostrou-se
verdadeiramente Mãe da Igreja e foi verdadeira Mestra e Rainha dos Apóstolos,
aos quais fez participantes do tesouro dos divinos oráculos que Ela guardava em
seu coração".
- Profecia
A profecia é uma
das mais importantes graças carismáticas. Profeta é o que fala em nome de Deus,
principalmente se anuncia coisas futuras que transcendem ao conhecimento
natural que pode alcançar por si mesmo a inteligência humana ouNossa Senhora
Auxiliadora..jpg angélica. Consta com toda certeza que a Santíssima Virgem
possuiu o dom de profecia, posto que anuncia sem vacilação alguma que A
chamariam bem-aventurada todas as gerações (Lc. I, 48), o que se cumpriu
clamorosamente no mundo inteiro.
Estas são as
quatro graças carismáticas que recebeu certamente a Santíssima Virgem Maria.
Não consta que recebera nenhuma outra das assinaladas por São Paulo no texto
acima citado. Ao menos, não registra o Evangelho que Ela tenha realizado algum
milagre em sua vida mortal. Nas bodas de Caná, Jesus realizou o milagre da
conversão da água em vinho a instâncias de Maria, porém o milagre o realizou
Ele, não Ela.
São Tomás (III
27, 5 ad. 3) justifica com sua habitual lucidez o fato de que Maria não
operasse milagre durante sua vida mortal, a fim de não chamar a atenção de
ninguém sobre si mesma, mas que se fixassem todos exclusivamente na divina
missão de Cristo. Eis suas palavras, nas quais expressa seu pensamento acerca
das demais graças gratis datae, que
recebeu Maria:
"Não se
pode duvidar que a Bem-aventurada Virgem haja recebido de modo excelente o dom
de sabedoria, a graça das virtudes e ainda a da profecia. Porém, não recebeu o
uso de todas estas outras graças como as teve Cristo, mas de um modo adaptado à
sua condição. Teve o uso da sabedoria na contemplação, segundo disse São Lucas:
E Maria conservava todas essas coisas, meditando-as em seu coração (Lc. II,
19). Não teve, contudo o dom da sabedoria para ensinar, porque isto não era
próprio do sexo feminino, conforme ao que disse São Paulo (I Tim. II, 12). O
uso do dom de milagres não competia a Ela enquanto vivessem porque então a
doutrina de Cristo necessitava ser confirmada com milagres, e assim só a Cristo
e a seus discípulos, que eram os portadores de sua doutrina, convinha fazê-los.
Por isso, do próprio São João Batista se escreve que não fez nenhum milagre
para que assim todos prestassem atenção em Cristo. Por outro lado,
a Bem-aventurada Virgem teve o dom da profecia, como consta pelo cântico: Minha
alma engrandece ao Senhor (Lc. I, 46)".
Com ardorosas
palavras, Fr. Philipon compendia a ação do Espírito Santo na alma da Santíssima
Virgem, elevando suas admiráveis virtudes àquele píncaro de perfeição que fez
d'Ela a Rainha de todos os Santos:
Depois de Cristo, a Mãe de Jesus, Mãe de Deus e dos
homens, (...) foi a alma mais dócil ao Espírito Santo. São João da Cruz nos
assegura que a Mãe de Deus vivia sob a contínua moção de seu Divino Esposo, no
cume da união transformante (CRF. Subida, 1.3, cap. 2.10). Cada um de seus atos
conscientes procedia dEla e do Espírito Santo, e apresentava a modalidade
deiforme das virtudes perfeitas sob o regime dos dons. Enquanto o Verbo
Encarnado, em virtude de sua Personalidade divina, não podia aumentar em
santidade, a Mãe de Cristo aparece na Igreja como o protótipo do progresso
espiritual, o ideal de toda alma cristã em sua ascensão rumo a Deus (...)
Nela: todas as luzes da fé esclarecida pelo Espírito
de inteligência, de ciência, de sabedoria e de conselho; Ela é a Rainha dos
profetas e dos doutores. Supera em piedade a todas as filhas de Israel, a todas
as figuras femininas que aparecem no Antigo Testamento; é a Rainha dos
patriarcas e de todas as lamas justas de Israel. O evangelho no-lo diz:
meditava continuamente em seu coração as palavras divinas, escutava ao Verbo: é
a Rainha das almas contemplativas e de todas as almas que oram. Sua
magnanimidade e sua fortaleza de ânimo A colocam à frente de todos os homens de
ação e de todos os servidores de Deus.
Ela é a Rainha de todos os apóstolos, dos
missionários, de todos quantos na Igreja militante dão seu sangue e suas vidas
pelo Reino de Deus. E a Rainha dos mártires. Sua pureza virginal e sua
delicadeza de alma, (...) fazem d'Ela o ser mais puro que tenha passado por
essa Terra de pecado. Ela é a Imaculada, a Rainha dos Anjos e das virgens, a
Rainha de todos os Santos.
A Virgem Fiel, Mãe do Verbo e do Cristo total,
sempre dócil ao mais leve sopro do Espírito, é, junto com seu Filho, a
obra-prima da Santíssima Trindade.
(CLÁ DIAS, JOÃO. Pequeno
Ofício da Imaculada Conceição Comentado. Artpress. São Paulo, 1997, pp. 489 à
492).
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