O AUTOCONHECIMENTO
Como seria possível se
organizar com prudência e viver sua vida espiritual sem conhecer o quadro
interior em que deve desenvolver-se? Seria, senão um fracasso, grandes
sofrimentos. Como é importante conhecer-me, com qualidades, riquezas e também
feridas, carências; com possibilidades de transcendência abrindo-me ao Mistério
e com possibilidades de limitar demais meu mundo, fechando-me ao sobrenatural. No
diálogo com Deus eu me conheço em toda a minha realidade e posso caminhar na
verdade. E isso torna-se possível pela
oração.
“Se perguntássemos a uma pessoa quem
ela é, e não soubesse responder, nem dizer quem foi seu pai, sua mãe, ou a
terra em que nasceu, seria grande ignorância, coisa mais própria de
animal que de homem”.
“Não sei se falei bem claro. É tão
importante este conhecimento de nós mesmas, que não quisera jamais descuido
neste ponto, por elevadas que estejais nos céus.” (1M 2,9)
É necessário conhecer a
estrutura da alma para caminhar para Deus. Tomar, diante de Deus, a atitude da
verdade que Ele exige.
O conhecimento próprio gera
um equilíbrio na vida espiritual tornando-a mais humana e sublime e
consequentemente uma vivência espiritual prática e profunda. Santa Teresa nos
pede um duplo conhecimento de si: o conhecimento psicológico da alma e o
conhecimento espiritual.
I.
O conhecimento psicológico
Santa Madre vibra com as
impressões do mundo exterior e, mais ainda, com os choques poderosos e com as
delicadas unções da Graça. Desse modo, Teresa, apresenta em seus escritos,
verdades psicológicas importantes para a vida espiritual, sendo elas: 1. A distinção
das faculdades, uma vez que desconhecemos que há um mundo interior complexo e
mutável em nós. 2. A ação de Deus que permite distinguir em nós duas regiões na
alma: uma exterior, mais agitada e onde encontramos a imaginação e o
entendimento; e uma interior que é mais tranqüila, a essência da alma onde atua
de maneira mais forte a Graça de Deus.
II.
O conhecimento espiritual
O conhecimento espiritual é
também muito útil à perfeição, pois alimenta a humildade e se mescla com ela. A
humildade é o pão com o qual se deve comer todos os alimentos. Para caminharmos
no conhecimento espiritual de si mesmo precisamos reconhecer: o que somos
diante de Deus, as riquezas sobrenaturais e as más tendências presentes em nós.
Na base do relacionamento com Deus está aquilo que Ele é o que nós somos.
Devemos reconhecer esse abismo infinito a partir da razão, da fé e dos dons do
Espírito Santo tendo como exemplos Nosso Senhor Jesus Cristo e a Virgem Maria.
O duplo conhecimento do tudo de Deus e do nada do homem é fundamental para a
vida espiritual, pois cria na alma uma humildade de fundo que nada poderá
perturbar, coloca-a numa atitude de verdade que atrai todos os dons de Deus. A
alma deve também considerar as riquezas sobrenaturais, o valor das graças que
recebeu e recebe. Não é à toa que Santa Teresa compara a alma com aspectos
brilhantes. Importante também neste processo é o reconhecimento das conseqüências
do pecado original que são as más tendências. Elas provocam uma desordem na
natureza humana sendo influenciada pela educação recebida, meio freqüentado,
pecados e hábitos adquiridos. A ascese eficaz passa pelo conhecimento dessas
verdades.
Santa Teresa recomenda que
não se procure conhecer analisando-se diretamente, mas procurando-se sob a luz
de Deus. Ela quer conhecer-se para melhor servir à Deus. O conhecimento de si
desenvolve-se com o próprio conhecimento de Deus que é verdadeiro quando traz o
sinal divino que é paz, o equilíbrio, a liberdade e a fecundidade.
"Alma, procura-te em Mim a a Mim busca-me em
ti".
Fonte:
Quero ver a Deus –
Frei Maria Eugênio.
Oração: história de
amizade – Maximiliano Herraiz Garcia.
Obras Completas de
Santa Teresa.
Livro de Formação da
OCDS - Primeiras Promessas.
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