quinta-feira, 9 de junho de 2016

Refletindo com Nossos Pais: Santa Teresa de Jesus

O AUTOCONHECIMENTO



Como seria possível se organizar com prudência e viver sua vida espiritual sem conhecer o quadro interior em que deve desenvolver-se? Seria, senão um fracasso, grandes sofrimentos. Como é importante conhecer-me, com qualidades, riquezas e também feridas, carências; com possibilidades de transcendência abrindo-me ao Mistério e com possibilidades de limitar demais meu mundo, fechando-me ao sobrenatural. No diálogo com Deus eu me conheço em toda a minha realidade e posso caminhar na verdade.  E isso torna-se possível pela oração.

“Se perguntássemos a uma pessoa quem ela é, e não soubesse responder, nem dizer quem foi seu pai, sua mãe, ou a terra em que nasceu, seria grande ignorância, coisa mais própria de animal que de homem”.

“Não sei se falei bem claro. É tão importante este conhecimento de nós mesmas, que não quisera jamais descuido neste ponto, por elevadas que estejais nos céus.” (1M 2,9)  


É necessário conhecer a estrutura da alma para caminhar para Deus. Tomar, diante de Deus, a atitude da verdade que Ele exige.
O conhecimento próprio gera um equilíbrio na vida espiritual tornando-a mais humana e sublime e consequentemente uma vivência espiritual prática e profunda. Santa Teresa nos pede um duplo conhecimento de si: o conhecimento psicológico da alma e o conhecimento espiritual.

I. O conhecimento psicológico 


Santa Madre vibra com as impressões do mundo exterior e, mais ainda, com os choques poderosos e com as delicadas unções da Graça. Desse modo, Teresa, apresenta em seus escritos, verdades psicológicas importantes para a vida espiritual, sendo elas: 1. A distinção das faculdades, uma vez que desconhecemos que há um mundo interior complexo e mutável em nós. 2. A ação de Deus que permite distinguir em nós duas regiões na alma: uma exterior, mais agitada e onde encontramos a imaginação e o entendimento; e uma interior que é mais tranqüila, a essência da alma onde atua de maneira mais forte a Graça de Deus.

II. O conhecimento espiritual 


O conhecimento espiritual é também muito útil à perfeição, pois alimenta a humildade e se mescla com ela. A humildade é o pão com o qual se deve comer todos os alimentos. Para caminharmos no conhecimento espiritual de si mesmo precisamos reconhecer: o que somos diante de Deus, as riquezas sobrenaturais e as más tendências presentes em nós. Na base do relacionamento com Deus está aquilo que Ele é o que nós somos. Devemos reconhecer esse abismo infinito a partir da razão, da fé e dos dons do Espírito Santo tendo como exemplos Nosso Senhor Jesus Cristo e a Virgem Maria. O duplo conhecimento do tudo de Deus e do nada do homem é fundamental para a vida espiritual, pois cria na alma uma humildade de fundo que nada poderá perturbar, coloca-a numa atitude de verdade que atrai todos os dons de Deus. A alma deve também considerar as riquezas sobrenaturais, o valor das graças que recebeu e recebe. Não é à toa que Santa Teresa compara a alma com aspectos brilhantes. Importante também neste processo é o reconhecimento das conseqüências do pecado original que são as más tendências. Elas provocam uma desordem na natureza humana sendo influenciada pela educação recebida, meio freqüentado, pecados e hábitos adquiridos. A ascese eficaz passa pelo conhecimento dessas verdades.

Santa Teresa recomenda que não se procure conhecer analisando-se diretamente, mas procurando-se sob a luz de Deus. Ela quer conhecer-se para melhor servir à Deus. O conhecimento de si desenvolve-se com o próprio conhecimento de Deus que é verdadeiro quando traz o sinal divino que é paz, o equilíbrio, a liberdade e a fecundidade.


 

"Alma, procura-te em Mim a a Mim busca-me em ti". 



Fonte:
Quero ver a Deus – Frei Maria Eugênio.
Oração: história de amizade – Maximiliano Herraiz Garcia.
Obras Completas de Santa Teresa.
Livro de Formação da OCDS - Primeiras Promessas.

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